A procrastinação nos tempos do Smartphone

A procrastinação é um assunto em moda atualmente. E não é para menos. Há estudos que apontam que 95% da população tem o hábito de procrastinar e em torno de 20% sofrem de forma crônica com ela. Esses percentuais podem variar dependendo do grupo analisado: crianças, adultos, estudantes, entre outros.

Quanto adiamos coisas, atividades, tarefas que sabemos que temos de fazer e que, muitas delas são necessárias ou importantes, tendo consciência de que não há problemas reais que nos impeçam de fazê-las e, que haverá consequências que irão nos prejudicar, essa é a procrastinação tomando conta.

Se a procrastinação é tão comum, não seria normal?

Antes de respondermos essa pergunta temos que entender porque procrastinamos.

Segundo a neurociência, a procrastinação é uma decisão consciente e intencional do cérebro, que sempre tenderá a preferir atividades que tragam recompensas imediatas com o mínimo de esforço despendido. 

Evolutivamente, isso faz muito sentido na cadeia de evolução e diferenciação do ser humano diante das outras espécies. No começo, precisávamos priorizar atividades onde economizaríamos energia e gerariam mais resultado, tanto para nos alimentar como para nos proteger. Afinal, a maior parte de nossa existência vivemos em um mundo de escassez e de competição. 

Hoje, pelo progresso de nossas habilidades cognitivas e do aumento de nossa consciência individual, como também da consciência coletiva gerada em sociedade, somos capazes de criar uma estrutura histórica e cultural contributiva, ou seja, expandimos nossas conquistas a níveis cada vez mais altos, de forma transferível e multiplicável. 

Dessa forma, conseguimos empilhar conhecimentos, experiências e resultados que tornaram nossa vida mais fácil, com muito mais ofertas de recompensas diretas e imediatas. Afinal, é uma tendência programada em nosso cérebro procurarmos fazer aquilo que é mais fácil, que gostamos e que nos dá prazer.  

Preguiça x Procrastinação

A preguiça e a procrastinação podem ter algumas semelhanças nos seus efeitos, mas não são a mesma coisa. Não entender a diferença pode levar a uma confusão de como lidar com cada uma delas. 

A preguiça é uma falta de vontade e de motivação para fazer as coisas do dia a dia, é a aversão ao trabalho e ao esforço, é a busca do ócio em detrimento da ação. É quando a pessoa se encontra em um estado de prostração, de moleza: Já ouviu aquela frase: “quanto menos faz, menos quer fazer”? 

Socialmente e moralmente, a preguiça é comumente criticada e recriminada, levando a pessoa a uma imagem negativa diante de familiares, no trabalho ou em outros círculos sociais. E se não há críticas ao preguiçoso, provavelmente é por que, por preguiça, ele não participa de quase nenhum grupo.   

Mas a preguiça não está somente relacionada a uma questão de desvio moral.  Ela também pode ter relação com causas psíquicas e fisiológicas. A deficiência de nutrição pode ser uma delas. 

A procrastinação, como já vimos acima, é fazer determinadas tarefas em detrimento de outras, colocando tarefas menos importantes à frente de tarefas principais.

Alguns sinais de procrastinação

São nos comportamentos repetitivos e reiterados, muitas vezes de forma crônica, que esses sinais se tornam preocupantes. Veja alguns desses sinais que revelam um quadro de procrastinação:

  • acordar de manhã e demorar a sair da cama. Desligar o despertador e somente se levantar quando já está praticamente atrasado;
  • pegar o celular em todo momento para ver seja o que for, e quando se dá conta, perdeu horas prejudicando o que estava fazendo ou o que ia começar a fazer; 
  • perder o foco muito facilmente, principalmente de coisas sabidamente importantes e necessárias, desviando-se para coisas menos importantes, geralmente desnecessárias;
  • sempre ficar pensando demais antes de fazer algo que precisa ser feito, como uma negociação enfadonha dentro do seu próprio cérebro, que não chega a lugar nenhum;
  • tudo o que é preciso terminar, todas as suas entregas são deixadas para a última hora, sistematicamente;
  • antes de começar, os pensamentos já vão sendo formados dentro da mente, com desculpas e justificativas dos “porquês” você não irá conseguir finalizar, ou mesmo nem começar.

Esses mesmos comportamentos, quando aparecem de forma  esporádica e episódica, não necessariamente consistem em um “problema” de procrastinação. Geralmente, com ajustes na rotina ou com a identificação e solução de alguns problemas específicos, eles desaparecem.   

A procrastinação é mesmo tão ruim?

Se a procrastinação é tão comum e, normalmente, deixamos acontecer porque alcançamos prazer e recompensa imediata naquilo que estamos optando a fazer em detrimento de outras, ela pode ser mesmo tão ruim?  

Sêneca, filósofo estóico romano do Séc. I dizia: “Adiar as coisas é o maior desperdício da vida. Arrebata cada dia que vem e nos nega o presente prometendo o futuro. Todo o futuro está na incerteza”.

Sugerimos que você faça um exercício sincero e corajoso de auto confrontação e responda  a estas perguntas: Quantas coisas você já perdeu por ter procrastinado em fazer algo? Quantas coisas não saíram do jeito que você queria por ter deixado para a última hora? De tudo o que você já fez na vida, qual é o percentual que você realmente deu o seu melhor? Quantos arrependimentos você tem por isso? 

A procrastinação, quando crônica, é um mal que nos leva a ter muitos prejuízos em nossas vidas, imediatos e futuros. E de toda ordem. Temos que ter muito cuidado desde o aparecimento dos primeiros sinais, para não se transformar em um grande sofrimento.

As implicações são diversas. Um estudo feito com 3.500 alunos de universidades da Suécia seccionados em três momentos, publicado em janeiro de 2023 pela revista JAMA Network Open, apresentou os efeitos da procrastinação. O ato de procrastinar tem impacto direto na saúde mental, e é causador de estresse, ansiedade e depressão a níveis patológicos, ocasionando uma baixa de imunidade. Também leva a problemas físicos, como dores nas extremidades, na região superior do corpo como ombros, cervical e cabeça, devido a tensão provocada.

O problema é que a  procrastinação facilmente se torna um hábito, que toma conta de todo tempo que deveria ser de uma rotina de realizações. Isso causa um estado constante de angústia e mal-estar. Por incrível que possa parecer, o não fazer, ou fazer correndo para entregar de última hora, gera uma sensação de sobrecarga mental por causa do estresse e da ansiedade. 

A baixa produtividade em projetos, estudos e trabalho, baixa qualidade no que fazemos e a consequente falta de comprometimento, nos leva a perder oportunidades com muita frequência e ao fracasso em quase tudo, como no trabalho, em novos negócios, projetos acadêmicos e no relacionamento familiar. 

Esse ciclo, constantemente reforçado pelos insucessos e pelo sofrimento causados pela procrastinação, levam as pessoas a diminuição da autoestima e da autoconfiança por alimentar um sentimento de culpa e de inutilidade.

Smartphones, redes sociais e procrastinação

Na era da tecnologia digital, o que mais acontece são mudanças e novidades e em uma velocidade nunca experimentada em nossa sociedade. Tudo o que se cria hoje para as interfaces digitais tem forte desenvolvimento voltado à experiência do usuário. 

Sabe quando dizemos que parece que nosso celular, ou que as redes sociais conhecem mais sobre nós, que nós mesmos? Pois é, isso é um fato. Isso é decorrente de muito estudo, de tecnologia avançada, método, psicologia comportamental, marketing, inteligência sobre os dados que nós mesmos produzimos em nossas jornadas ricas em interação digital.    

É por isso que é tão fácil os smartphones, através das redes sociais, apps, games, roubarem horas de nossa atenção. Eles são poderosos em estimular o nosso cérebro a produzir dopamina, nos ofertando, intencionalmente e de forma continuada, o que mais nos dá prazer, para nos manter conectados.  

Sim, é muito difícil se livrar de tudo isso. Mas não há necessidade de voltarmos à era analógica. Se identificarmos que o smartphone se tornou um instrumento de procrastinação, que está adiando a nossa vida, é hora de tomar coragem de aprender a lidar com ele, tomando as rédeas da situação e o controle de você mesmo. 

A procrastinação está diretamente relacionada a um neurotransmissor responsável por provocar a sensação de prazer, de satisfação e do aumento da motivação em nosso cérebro. Esse neurotransmissor é chamado de dopamina. 

Que, por sua vez, também tem relação com a noradrenalina, outro neurotransmissor responsável, entre outras coisas, pelo aumento da disponibilidade de energia para uso imediato pelo corpo, auxilia no aumento da taxa de fornecimento de oxigênio para as células e têm a capacidade de elevar a pressão sanguínea por meio da vasoconstrição periférica generalizada. Enfim, ela é poderosa em preparar o nosso corpo para a ação, para a execução, para entrar em movimento.

A procrastinação se alimenta dos efeitos da dopamina e nos prende na busca de mais e mais. O que precisa de mais esforço e de ação é deixado de lado – Tchau noradrenalina, nem te conheço! 

Para que nosso corpo e nossa mente aproveitem, da melhor forma possível, esses recursos naturais para combater a procrastinação, podemos e precisamos buscar desenvolver, de forma consciente e intencional, uma mentalidade mais preparada para a execução de tarefas. Para a ação, em combate à procrastinação.  

Se você entende que a procrastinação pode estar prejudicando a sua vida, nesses artigos você vai encontrar algumas maneiras que podem te ajudar a combatê-la: 6 formas de vencer a procrastinação e saiba 6 maneiras de combater a procrastinação

Sempre é tempo agora! Se não agora…Quando?

Sobre o Autor

Olavo Bertolini
Olavo Bertolini

Nascido no Brasil, nos idos de 1971, mais especificamente na cidade de Bauru no interior do estado de São Paulo, Olavo Emanuel Bertolini, hoje (janeiro/2024) com 52 anos de idade é pai do menino Giovani de 5 anos, casado com sua esposa Juliana há quase 12 anos. Tem formação em gestão empresarial, segurança do trabalho, estratégia em marketing digital e pós graduação em ERGONOMIA pela Universidade Senac de Ribeirão Preto – SP, dando ênfase ao estudo e desenvolvimento das atribuições psicossociais, cognitivas e comportamentais dos indivíduos, principalmente nas suas relações profissionais e de trabalho. Suas viagens pelo Brasil e pelo exterior lhes trouxeram rica experiência cultural e uma incrível expansão de consciência sobre as diferentes dimensões humanas e suas relações. Suas viagens a outros continentes como Ásia, África e Oriente Médio, lhes proporcionaram olhar singular sobre detalhes e nuances peculiares dos relacionamentos multiculturais. Olavo Bertolini é um aficionado em estudar e compreender o comportamento humano, com uma visão pragmática sobre a jornada do desenvolvimento do indivíduo. Alguns dos seus trabalhos favoritos, que tem se tornado rica fonte de pesquisa e aprimoramento, são as suas mentorias individuais com pessoas dedicadas ao seu desenvolvimento pessoal e empresarial. Ávido leitor e hábil mentor na construção de relacionamentos saudáveis e positivos, nos últimos anos tem se dedicado a escrever textos e artigos instigantes na busca de melhor compreender o ser humano.

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